investimentos em dólar

Alocação Internacional. Como e por que fazer?

Nunca foi tão obvio a importância da alocação internacional. A decorrelação do dólar com o real trás ainda mais segurança para o investidor local incluir este ativo no portifólio. A exposição internacional em dólar é a principal forma de proteção contra a inflação brasileira. Neste vídeo comento um pouco mais sobre esse tema. No corpo deste e-mail também apresento alguns outros beneficios desta alocação.

O que o investidor deve fazer?

Se você está lendo este artigo é muito provável que já tenha se deparado com a alta volatilidade presente nos ativos brasileiros. A alocação internacional visa também diminuir este risco. Na visão do investidor internacional, o Brasil se posiciona como uma economia emergente, em desenvolvimento, ou seja, ela traz consigo riscos elevados principalmente nas frentes política, fiscal, econômica e regulatória. Apesar do alto potencial de retorno das economias emergentes, é comum que as quedas também sejam mais acentuadas em momentos de aversão ao risco, por conta da migração massiva para ativos mais seguros, normalmente encontrados no mundo desenvolvido.
A bolsa local possui uma gama de investimentos atrativos, principalmente para o investidor focado na escolha dos ativos.
Mas, ainda que o investidor possua esta seleção em seu portfólio, é praticamente impossível são absorver as grandes perdas ocasionadas por um cenário macro deteriorativo como temos visto nos últimos meses, caso o portfólio investidor esteja muito concentrado em Brasil. 
Este cenário serve apenas para reforçar uma necessidade quase unânime no mercado: a diversificação internacional. Neste e-mail, trago os principais fundamentos que justificam uma alocação de 10% ou mais dos investimentos em ativos globais.

1. O Brasil é apenas uma gota no oceano dos mercados
Sabemos que o Brasil é um país de dimensões continentais, ocupando a 5ª posição do planeta em termos territoriais. Além disso, possuímos o 12º maior PIB do mundo em 2020 (éramos o 8º em 2010). Estes números nos levariam a imaginar que a representatividade do mercado financeiro brasileiro também seria relevante, no entanto, o Brasil representa menos de 1% do mercado acionário global de US$ 120,8 trilhões, evidenciando que o investidor concentrado em ativos locais está de fora de 99% das oportunidades oferecidas por empresas globais.
Os EUA, que possuem o maior mercado acionário do mundo (US$ 52,1 tri), representam ~43% do total enquanto a China (US$ 12,4 tri) representa ~10%. De acordo com a World Federation Exchanges, em 2019, o mundo possuía 43 mil empresas listadas em bolsa ao passo que o Brasil continha 345. Mais um ponto a levar em consideração quando pensamos na alocação internacional.

comparação do pip do brasil e mundo
 

Para se ter uma ideia, a Apple, hoje a maior empresa do planeta, possui uma capitalização de mercado de US$ 2,5tri, ou seja, é 2,5x maior que a soma de todas as empresas brasileiras listadas em bolsa (~US$ 1tri).

descorrelação entre as empresas cotadas em dólar

2. Existem temáticas de longo-prazo inacessíveis via empresas locais

Não se trata apenas de tamanho, mas de oportunidades e temas de investimento
. Um exemplo prático disso é observar os produtos e serviços que fazem parte de nosso dia-a-dia: desde os automóveis até os celulares, computadores e redes sociais, uma fatia significativa deles é fornecida por empresas internacionais e muitas delas já estão acessíveis para o investidor brasileiro sob uma gama de produtos.
Olhando para o futuro, entendemos que existem mudanças estruturais em curso que devem gerar oportunidades de investimento. A adoção do streaming via Netflix, Disney+ e Amazon Prime, por exemplo, é uma transformação estrutural que se consolida frente aos cinemas, mas que não é acessível por meio de empresas brasileiras e que, portanto, exige que o investidor realize a alocação internacional através de outros veículos, posicionando-se nestas oportunidades, seja via BDRs, fundos ou produtos estruturados.

3. As perdas e a volatilidade são menores numa carteira diversificada

Ao alocar em ativos globais, o investidor reduz o risco total da sua carteira, uma vez que um espectro maior de ativos deve cair menos em períodos de estresse de mercado. Os benefícios da diversificação são muitos, mas, em 1º lugar, ela protege o seu patrimônio das perdas “irrecuperáveis”; imagine que você investisse todo seu patrimônio em uma empresa e que, ao longo do tempo, perdesse 50% de seu valor. Neste caso, seria necessária uma alta de 100% no ativo para que as perdas fossem recuperadas. A tabela abaixo mostra qual é o retorno necessário para o investimento recuperar-se após determinada perda:

tempo para recuperação em uma crise

Por isso, possuir vários ativos na carteira que sejam expostos a diferentes riscos (geográficos e setoriais, principalmente) ajudam a te proteger de desvalorizações expressivas, que são comuns no mercado acionário, principalmente em países emergentes, como Argentina e Brasil.
A volatilidade (característica comum de portfólios pouco diversificados) de uma carteira também pode trazer efeito deletério nos retornos. Abaixo, simulamos 3 cenários com volatilidades diferentes. No 1º, o portfólio ganharia +10% seguidos de -5% durante 40 períodos consecutivos. No 2º, seria +25% e -20%. No 3º +40% e -35%. Depois de 40 períodos, os retornos variaram expressivamente: Cenário 1 = +141%, Cenário 2 = 0% e Cenário 3 = -85%.

Além destes aspectos também vale notar que o investidor brasileiro médio já está exposto ao risco-Brasil em diversas frentes de suas vidas, não apenas nos investimentos, uma vez que o valor de seus imóveis, bens, comércio e salário está atrelado ao desempenho econômico local, reforçando ainda mais a necessidade de diluir parte deste risco geográfico via investimentos internacionais.

4. Exposição em moeda forte e estabilidade macro

Tendo como base a alocação internacional, o investidor local possui o costume de acompanhar o desempenho de sua carteira em moeda local, o que não é completamente errado, no entanto, países emergentes costumam enfrentar maiores instabilidades macro (fiscal/política/econômica), que muitas vezes ocasionam inflação e depreciação cambial, corroendo o desempenho real dos ativos investidos.

Se observarmos o desempenho dos índices Merval (Argentina), do Ibovespa e do S&P 500 nos últimos 20 anos, percebemos que o primeiro entregou ganhos de +13.400%, o segundo +624,8% e o terceiro “apenas” +224,3%, quando observados em moeda local, ou seja, Peso argentino, Real brasileiro e Dólar americano. Essa alta valorização da bolsa argentina, no entanto, ofusca a perda de valor daquele investimento seja via altíssimos níveis de inflação ou depreciação cambial.

Veja neste outro artigo como utilizar o dólar para proteção e descorrelação da carteira.

correlação entre ibovespa e S&P

Comparando bananas com bananas: Um investidor mais experiente plotaria o mesmo gráfico acima, mas desta vez utilizando o Dólar americano como base monetária, e o resultado que temos é o seguinte: Em 20 anos, a valorização do Merval saiu de +13.400% para meros +38,1%. No Brasil, o efeito da inflação e depreciação cambial também deteriorou os ganhos “aparentes” de +624,8% para apenas +150,6%. O investidor estrangeiro que apostou no Brasil há 10 anos, na verdade, ainda enfrenta perdas de ~50%.

Leitura recomendada:

recomendação de livro para o investidor que pensa em alocação internacional
O Investidor de Bom Senso
admin

Share this post

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on pinterest
Share on print
Share on email